Chapéu cangaceiro

Ícones judaicos no sertão e no cangaço

O chapéu de couro é um utensílio de uso exclusivo do Nordeste brasileiro. É o capacete do vaqueiro que sem receio costura a caatinga a enfrenar e desviar-se de galhos, garranchos e espinhos. O tal capacete de abas curtas e rijo, como um bicho bruto, faz suas histórias nas marcas que recebe sobre o padrão de sua costura.

Adornado com uma ou mais estrelas de seis pontas, carrega em si uma gama de simbolismos que atravessaram continentes e séculos. A estrela é a mesma citada nos antigos livros e histórias bíblicas: a estrela de Davi, acompanhada por tiras de couro nas laterais. Essas fitas representam o peiot (costeleta em hebraico) – os cachos longos de cabelos do judeu ortodoxo. Prática oriunda da ordenança que diz: “Não raparás em torno de tua cabeça, nem tirarás as bordas da tua barba” – Levítico 19:27.

O chapéu nordestino é também, como o objeto ao qual fora inspirado, chamado de “quipá”. Sendo uma personalização do solidéu, espécie de touca em forma de calota, usado pelos adeptos da fé judaica. O quipá judeu simboliza Deus acima de tudo e é tido como um amuleto de proteção por seu portador.

O quipá também dá nome a uma espécie de cacto sertanejo cujo formato arredondado e volumoso lembra o quipá usado pelos judeus e monges católicos; outro cacto conhecido como coroa-de-frade faz alusão também ao quipá, sendo os espinhos de pontas levemente envergadas associados à coroa de espinhos de Jesus Cristo.

Quipá - cacto
Quipá – palma nativa da caatinga

Esses símbolos tantas vezes mascarados para evitar perseguições religiosas, acabaram se mesclando no cotidiano das antigas vilas e entre os praticantes da fé católica. Discretamente enraizou-se, ficando como um rastro dos antigos colonos que perante a vigília católica, pouco conseguiu preservar de sua herança religiosa.

Kipá e chapéu de vaqueiro
Chapéu de cangaceiro

Ícones judaicos nos adornos do cangaço

As estrelas de seis pontas, algumas vezes figuradas por cinco (por despiste), acompanharam outro modelo de chapéu, uma nova versão do kipá, de abas maiores em formato arqueado como uma meia-lua. As estrelas, dispostas em combinação de três, agora representavam a trindade divina, como uma benzedura permanente no topo da testa. O propósito permanecia o mesmo, proteção e o reconhecimento de Deus sobre todas as coisas. As estrelas eram o “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Este chapéu tornou-se símbolo de um dos movimentos de maior influência na história do Nordeste brasileiro, o cangaço.

O Tsitsit é um colete quadrado usado pelos judeus, feito em algodão ou lã, no qual as pontas se encontram. Entre os cangaceiros, a peça aparece em forma de lenço, sobre a vestimenta e envolto no pescoço.

Outro símbolo marcante enraizado na cultura nordestina são as alpargatas: chinelos rústicos fabricados com couro. O calçado foi originalmente chamado Alparca e já existia nos tempos de Jesus. As alparcas eram os calçados utilizados por guerreiros mouros que invadiram a península ibérica por volta de 100 dC. Foi adotado pelos portugueses e espanhóis e através deles, veio parar no Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Colômbia. Também são conhecidos como: alpercata, alpergata ou alpargata.

Elementos da cultura árabe estão presentes em toda parte e assim influenciaram várias culturas, línguas e costumes associados ao judaísmo que continuam a aflorar no cotidiano dos habitantes do nordeste brasileiro.


Referência:

  • BARMONTE. Paulo César. oqqbuiquetem.com.br
Postado em Cangaço e marcado como , , , .

Publicitário, fotógrafo e pesquisador da história buiquense.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *