Quilombo Mundo Novo: Serra da Torrada
Samba de Coco | Manifestações Culturais | Alimentação
Definição de Quilombo:
Quilombo é um termo de origem bantu para designar uma espécie de acampamento realizado por guerreiros na mata. Em 1740, o Conselho Ultramarino define como quilombo qualquer habitação composta por negros fugidos em número superior a cinco indivíduos, mesmo que não houvesse ranchos erguidos ou qualquer outro sinal de habitação. De quilombo, surge o termo quilombola – aquele ou aqueles cuja origem remanesce de um quilombo.
Mundo Novo | Serra da Torrada
A Serra da Torrada está inserida no território que abrange o quilombo do Sítio Mundo Novo e também divide a área de outro quilombo: o do Sítio Fasola. Na área e entorno da Serra estão acomodadas várias famílias remanescentes de quilombolas. No passado, a área da Serra, pertenceu a um senhor chamado José de Amorim que a trocou por outras terras pertencentes a um senhor da família Merêncio, que depois trocou a mesma terra com Antônio Martiniano por outra localizada no Sítio Serra Baixa.
O lugar era chamado torrada porque antigos moradores eram conhecidos por se alimentar predominantemente do fubá que torravam em tachos feitos em latas. A isso se deve a alcunha de “negros da torrada”.
Reconhecimento
Em 2018, a área em que vivem os descendentes de africanos escravizados foi certificada como remanescentes de quilombo pela Fundação Cultural Palmares (FCP), com atribuição de: Quilombo Sítio Mundo Novo e Quilombo Fasola, pela Portaria n°203/2018, de 17/08/2018 (processo: n°01420.008719/2015-03).
Resolução de Tombamento: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: […] § 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos. | Fonte: Constituição Federal de 1988.
Manifestações Culturais
Samba de Coco Resgate da Alegria
Nas comemorações de independência, emancipação política da cidade, entre outros eventos locais. O Grupo “Samba de Coco Resgate da Alegria” é comumente convidado para apresentar sua arte ancestral ao público.
Os sambas são cantados em coro e os versos puxados por uma ou duas mulheres na roda. O ritmo é compassado pela batida dos pés contra o chão e o bater de palmas. A dança contagia os presentes que costumam entrar na roda.
As canções foram ensinadas pelos mais velhos. Os integrantes, a maioria mulheres, utilizam como instrumentos de acompanhamento, apenas o pandeiro. em 2023 as visitações à Serra da Torrada foram intensificadas graças a presença de pessoas que se predispuseram a ajudar a comunidade e divulgar a multiculturalidade compartilhada entre eles. A simpatia se caracteriza no sorriso e a animação é marcas registrada entre os integrantes do grupo que oferecem em sua arte mais do que a dança e o canto.
Capoeira
A capoeira é uma luta exclusivamente de origem brasileira, surgiu em Palmares-PE e com os antigos escravos espalhou-se. A mistura de luta com dança trás beleza e revela o equilíbrio, a força e o vigor dos povos africanos, cuja cultura é extremamente rica. A capoeira mostra-se discretamente presente na vida dos quilombolas buiquenses. Mas resiste e revela seu valor ao som das palmas e do berimbau.
Alimentação
Os visitantes que desejam conhecer a Serra são recebidos por uma cantata ou oração de boas vindas, energizando positivamente as pessoas que visitam o local. Sente-se de imediato a força sagrada e ancestral que paira naquele lugar. E claro, não há quem resista a não provar o café de sabor singular feito num fogão à lenha e servido em xícaras de cerâmica. Ali, o sabor e a rusticidade cultural fornecem experiências únicas. O xerém servido com galinha de capoeira; o fubá, o beiju e o cuzcuz ralados em moinho de pedra, são outras marcas registradas na comunidade.
O café de caco
Café de caco é a denominação ao café, cujos grãos eram torrados num caco (ou tacho) – recipiente improvisado, geralmente feito com lata. Após torrados os grãos eram moídos num pilão. Na época em que muitos trabalhavam com fabrico de farinha, haviam plantações de café em terras próximas. A família dos Antunes Beserra coletavam lenha nos arredores e fabricavam vassouras artesanais. Os produtos costumavam ser trocados por grãos de café. Essas vassouras não são mais produzidas.
A farinha de mandioca
No passado, a mandioca quando em ponto de colheita, era coletada, raspada e ensacada para ser carregada no lombo de jumentos. Ao mesmo tempo, outros levavam sobre os animais, sacos de lenha que seriam usadas para queimar a casa de farinha. Quando a colheita era farta, o excesso era levado em baldes ou sacos de náilon. Todos realizavam a mesma jornada em seguir pela Serra íngreme até chegar do outro nado, no Farsola, onde a farinha seria fabricada.
O Fubá e o Xerém
O Fubá é uma farinha de milho fina, ralada em moinho de pedra, assim como a massa do xerém. É um alimento rico, servidor em pó e misturado com outros ingredientes à gosto. Comumente misturam com o açúcar que dá sabor singular a iguaria, também é servido misturado com mel, podendo ser usado também no lugar da farinha de mandioca.
Já o Xerém tem os flocos mais grossos e o processo de moagem, junto ao preparo em panelas de barro e fogões à lenha, dão um toque especial a seu sabor que por padrão é servido acompanhado por carne de galinha de capoeira (criada no terreiro).
Mais informações
Para obter mais informações sobre visitação ao quilombo, contatar via Instagram da comunidade da Serra da Torrada via Instagram: Quilombo Mundo Novo
Texto: Paulo César Barmonte.
Referências:
- BARBALHO, Nelson. Cronologia Pernambucana: Subsídios para a História do Agreste e do Sertão (1811- a 1917). vol. 11, fls. 330, 1983.
- BARMONTE, Paulo César. Entrevista concedida por Josefa Antunes, Zilda Antunes, Zenilda Beserra, Albertino José (in memorian), Zuleide Panta (in memorian) e Severina Tereza no Mundo Novo.