Edilto Santana

Edílton Santana – o carrasco do banditismo

Em outubro de 1971, o agricultor André Tião – muito popular à época, foi encontrado morto com braços e pernas decepadas. No mesmo ano, uma senhora de 68 anos foi morta depois de torturada e violentada. Em ambos os casos, até hoje ninguém sabe quem os matou. Vários outros crimes não solucionados ganham força e Buíque tornou-se sinônimo de cidade onde a justiça não existia e os crimes vigoravam com temível crueldade. As autoridades locais não tinham serventia e a impunidade era uma triste certeza na boca dos cidadãos.

Em fevereiro de 1972, o Procurador-Geral da Justiça do Estado de Pernambuco, enviou para Buíque, o Promotor Edílton Santana, 30 anos. Sua missão era de proteger a população e desmembrar os crescentes índices de violência que vigoravam na cidade.

A primeira decisão do Promotor foi afastar o delegado de polícia local e todo o destacamento, rotulando-os por incompetência. Seu combate ao crime tinha como principal estratégia a rapidez nas investidas, sempre surpreendendo possíveis suspeitos com batidas policiais diárias por todo território que, possibilitaram a ordenança de prisão massiva de vários suspeitos.

Logo conquistou o voto de confiança da população antes descrente na justiça. O Promotor fez abrir um grande buraco sob a praça Nanô Camêlo e lá depositou no solo 300 peixeiras, 56 canivetes (encontrados com crianças), 44 rifles, 32 espingardas e 27 revólveres. Resultado de apreensões feitas num único dia de feira no centro de Buíque.

O local do enterro simbólico foi marcado com uma placa de madeira que continha os seguintes dizeres: Aqui a violência de Buíque começou a ser enterrada”.

 

Armas enterradas - Buíque
Imagem: Bráulio Pinho | Revista Manchete | 1972

A ação pôs medo em muita gente. No dia seguinte, centenas de homens apareceram para jogar suas armas nos jardins da casa do promotor. Alguns deles quebraram as peixeiras sobre as pernas antes de arremessa-las. A ação do valente promotor e seus 11 soldados encorajaram a população às denúncias. Contudo, essas eram feitas da meia-noite em diante. As pessoas tinham medo de serem reconhecidas à luz do dia. Pistoleiros e fazendeiros viraram alvos de investigação.

Era comum que agricultores de pequenas propriedades fossem expulsos de suas terras por outros mediante força bruta ou ameaças de morte. A exemplo de Miguel de Souza, agricultor – que por não ter cumprido a ordem de retirada, apareceu morto em baixo da cama, tendo sido antes amarrado e torturado com água fervente.

A delegacia contava com apenas 3 celas e estavam superlotadas por suspeitos recém-chegados. Dentre eles, João Gomes da Silva, conhecido pelo vulgo “zominho”, líder dos meliantes.

Zominnho

Quarenta pessoas foram acusadas por roubo e morte de 500 cavalos e jumentos, 380 bois e vacas e 40 pessoas. Quinze senhores de terras foram denunciados, mas gozavam da liberdade.

Homens e mulheres, contavam-lhe durante o dia, no fórum ou em frente a sua casa, histórias tristes e violentas, seguidas por pedidos de que a justiça fosse feita.

Na Mina Grande, o fazendeiro Zuza Tavares perseguia intensamente agricultores e indígenas com apoio de seus fiéis capangas. As investidas do corajoso promotor, fez os bandidos recuarem para as zonas rurais, o que tornou as buscas mais difíceis. Alguns dos pistoleiros foragidos, enviavam recados – dizendo que a qualquer momento invadiriam a cidade para libertar os seus. A luta contra os indígenas se arrastou por longos anos, mas estes últimos conseguiram vencer a imposição inimiga.

As pessoas passaram a enxergar no promotor uma espécie de santo. Principalmente depois de uma senhora: dona Carolina Florentina Lemos, ter se queixado ao mesmo de fortes dores de cabeça. O promotor disse que em meia hora a dor passaria. E com meia hora a dor passou. O fato foi suficiente para que a história se espalhasse no centro da cidade como um primeiro milagre.

A Câmara Municipal, ordenou a construção de um monumento no local onde as armas haviam sido enterradas e o Monsenhor José Kehrle (aos 80 anos) manifestou sua opinião nas seguintes palavras:

“Houve época em que os coronéis decidiam o destino da gente e até dos bichos. Depois, eles passaram e o poder concentrou-se nas mãos dos políticos. Atualmente, ele está com os grandes proprietários de terras. A justiça tarda mas não falha. Ela está chegando a nossa cidade e está próximo o dia em que viveremos em paz.”

Edílton não tinha tanta certeza disso, sabia que o combate a criminalidade seria passageiro caso não houvessem outras mudanças no combate ao crime. Vivia cercado por cinco soldados armados com fuzis e metralhadoras. Recebia diariamente cartas de ameaça que eram respondidas com novas denúncias e mandados de prisão.

As investidas do promotor, permitiram o desmanche de grandes plantações de maconha com modernos sistemas de irrigação. Os dois anos de controle imposto pelo banditismo, havia causado o fechamento definitivo de várias casas comerciais no município e contaminou a população com o medo e a desconfiança de qualquer estranho que se aproximasse.

Após 78 dias combatendo os malfeitores que assolavam o centro da cidade e seus distritos, o ousado promotor, tendo cumprido sua missão, deixa um legado de 28 bandoleiros presos, 53 processos criminais abertos e 118 expedições de mandados de prisão. Os cidadãos mais velhos apertavam suas mãos em sinal de gratidão pelo excelente trabalho. Edílton foi embora com a mesma discrição de sua chegada e tem seu merecido destaque na história do combate à violência em terras buiquenses.

 


Referência:

  • Revista Manchete. NOBLAT, Ricardo. O promotor Edílton Santana garante que os crimes de grandes senhores de terra não ficarão impunes. n. 1.043, Rio de Janeiro, 15 de abril de 1972. P. 132-135.
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Publicitário, fotógrafo e pesquisador da história buiquense.

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